quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Cartografia Social no Bairro 2 de Julho: Propostas de uso para vazios urbanos.


O projeto de extensão do Plano de Bairro 2 de Julho, no período de abril a julho de 2016, realizou nove Oficinas de Cartografia Social no bairro, em colaboração com o Movimento Nosso Bairro é 2 de Julho (MNB2J). A atividade integra um projeto mais amplo de Cartografia Social organizado pela Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador e com apoio do IDEAS - Assessoria Popular, sendo desenvolvido em conjunto com quatro comunidades do centro antigo: Bairro 2 de Julho, Gamboa de Baixo, Artífices da Ladeira da Conceição e ocupações do Movimento Sem Teto da Bahia - MSTB. No Bairro 2 de Julho, o projeto teve como enfoque a elaboração coletiva de propostas para os vazios urbanos existentes na área.

Vazio Urbano escolhido para desenvolver proposta de uso.
Vazios urbanos - Os vazios urbanos são edificações ou terrenos que permanecem inocupados ou subutilizados, esvaziados da sua função social, muitas vezes por razões especulativas, por serem localizados em áreas de grande interesse imobiliário pelos seus atributos históricos, culturais e paisagísticos. Este processo de abandono, deterioração física e desvalorização econômica também contribui para aumentar o lucro do mercado imobiliário. O (mal) uso destes vazios pode acarretar impactos negativos para a população moradora, principalmente para o segmento de baixa renda, que muitas vezes acaba sendo expulso dessas áreas. Um dos objetivos do Plano de Bairro é elaborar propostas de uso para esses vazios, contribuindo para a permanência e qualidade de vida dos habitantes. Para isso, optou-se pelo método da cartografia social.


Cartografia social - A cartografia social é uma metodologia alternativa de representação gráfica do espaço que permite que a elaboração de mapas não se concentre nas mãos dos técnicos e seja transferida para as mãos dos sujeitos que habitam e utilizam os espaços, refletindo suas próprias visões. Esse processo inclui uma diversidade ilimitada de formas de representação espacial que vão dos mais intuitivos (como mapas efêmeros, mapas mentais) aos mais técnicos (a exemplo de GIS, imagens satélite, modelagem 3D, etc.). Esse método também se distingue da cartografia convencional por produzir mapas que têm objetivos sociais, ambientais e/ou políticos explicitados.



Participantes reunidos na 2ª Oficina de Cartografia Social.
Oficinas - O projeto de Cartografia Social do 2 de Julho foi realizado em nove oficinas de 20 de abril a 13 de julho, nas quais foram desenvolvidas atividades como apresentação dos resultados da leitura técnico-comunitária do bairro, reconhecimento e mapeamento dos lugares de afetos e dos vazios urbanos existentes, caminhadas para apreensão dos vazios, discussões sobre as potencialidades, limitações e possibilidades desses espaços, elaboração de desenhos coletivos com propostas de uso e, por fim, modelagem virtual 3D das propostas realizadas. Todas as oficinas encerraram-se com uma avaliação sobre cada etapa do processo. 




Participantes apresentando os resultados desenvolvidos.
Propostas - Durante as atividades, os/as integrantes das oficinas propuseram usos que recuperassem alguns dos vazios identificados e contribuíssem para solucionar problemas do bairro. A partir das diversas propostas elaboradas, formou-se um consenso de que seria modelada uma praça pública em um espaço onde se localiza um conjunto de vazios, situado entre a rua Areal de Cima e a rua Visconde de Mauá, apelidado pelos/as participantes de “Vazio da Mangueira” pela grande árvore que ali se impõe.

No espaço da praça, propôs-se incluir um anfiteatro, áreas de lazer, banheiros, bebedouros públicos, bem como hortas e um galinheiro comunitários, que fariam parte de uma cooperativa de moradores/as a ser montada em um casarão desocupado que limita lateralmente o vazio. Nessa cooperativa funcionariam também uma creche e uma pequena loja para venda de insumos produzidos no local.



Foi proposto ainda usar as casas abandonadas da antiga Vila existente, para a criação de um conjunto de habitação social que teria acesso à praça. O modelo da praça foi feito utilizando o programa de computador Sketchup Make, um software livre de modelagem tridimensional de fácil obtenção e instrumentação. Num primeiro momento, ocorreram atividades de descoberta do software pelos/as participantes, onde eles puderam perceber, utilizando o Sketchup, as facilidades, possibilidades e limitações do programa. Depois, com base nas propostas dos desenhos coletivos foi feita a modelagem virtual da praça sobre o vazio.


Modelagem da proposta elaborada durante as oficinas.

As atividades da Cartografia Social no Bairro 2 de Julho resultaram não apenas nos produtos, desenhos, usos e modelos propostos para os vazios, mas também demonstraram, conforme os relatos dos/as moradores/as que participaram, a importância social e política de construir coletivamente novas formas de pensar e planejar o espaço urbano.

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